quarta-feira, 10 de março de 2010

DIPLOMACIA: 2009 foi um bom ano para estudar o papel da diplomacia brasileira no mundo. O Brasil recebeu a visita do presidente do Irã, se meteu nos problemas de Honduras, chefiou as forças da ONU no Haiti e se relacionou muito bem com o governo Chávez, para citar apenas as ações de maior visibilidade interna e externa. São temas que não se relacionam entre si. Alguns, inclusive, guardam certa dose de incompatibilidade.

RELAÇÕES EXTERIORES DO BRASIL: convém ressaltar que o serviço de relações exteriores do Brasil, historicamente, é tido como bom. O Itamaraty é visto como órgão eficiente. Talvez essa visão seja ainda resquício das atuações no século 19 e século 20. Nossa diplomacia começou a funcionar com D.João VI, no período colonial. Quando D. João VI voltou para Portugal, deixou aqui seu filho e uma estrutura de governo pronta para atuar como nação. A independência foi conseqüência e o Itamaraty seguiu seu trabalho.

GUERRA FRIA: entre altos e baixos, a diplomacia do período da Guerra Fria foi mais alinhada à política americana, com raros momentos de independência. Chegamos a fazer parte do bloco de nações não alinhadas. Contudo, no período militar, foi visível a preocupação brasileira em se afastar do leste europeu e combater qualquer ameaça de esquerdização do país. Para tanto, até mesmo a democracia foi sacrificada. Com o bloqueio de Cuba, o Brasil aproveitou para exportar mais açúcar.

HONDURAS: a aventura de Honduras terminou com discussões sobre os seus resultados: a esquerda mundial, o sindicalismo e um grupo de nações que não reconhecem o novo governo, consideram o papel do Brasil positivo. Outros povos e nações acham que episódio Honduras é página virada, a democracia foi preservada e, entre estas nações, estão os Estados Unidos. A comparação que se fez, em geral, refere-se ao papel conflitante do Brasil recebendo o presidente do Irã e saudando repetidas vezes o presidente Chávez, ambos considerados líderes pouco democráticos, enquanto não se reconhece o novo presidente de Honduras, saído de eleições.

AMÉRICA LATINA: o professor Ricardo Hausmann (Harvard) afirmou que o Brasil não acertou na defesa da democracia da América Latina e “o governo Lula deu à Colômbia um motivo para considerar o Brasil não confiável e uma razão a mais para se aproximar dos Estados Unidos” (Estadão, 31-01). O interessante é que a afirmação foi feita no Fórum Econômico Mundial (Davos, Suíça), onde o presidente recebeu homenagem como “Estadista Global”. Luiz Furlan, ex-ministro, presente ao encontro, resumiu o pragmatismo brasileiro: “Lula agiu como um homem de negócios”. Pergunta-se: somente os negócios movem a diplomacia?