segunda-feira, 17 de agosto de 2009

AS SEMENTES DO ÓDIO

A intolerância é filha da ignorância. No passado, quando famílias inteiras, desbravadores obstinados, mulheres subjugadas e filhos obedientes se dedicavam aos serviços mais rudes e difíceis, não havia espaço para o perdão e a lei do mais forte era a única justiça conhecida. As coisas se resolviam no braço ou na bala.
A violência hoje é outra, fruto da deterioração dos costumes, frente à acelerada urbanização da sociedade brasileira que ainda não se esgotou. Algumas cidades vivem em verdadeiras guerras civis. O Rio de Janeiro talvez seja o mais dramático dos casos, mas há outros, todos acontecendo em meio ao descaso das autoridades.
O Brasil tem receita suficiente para cuidar de seus filhos, dar-lhes escola e segurança, mas, de cada três orçamentos um é perdido em meio à burocracia e a corrupção. As famílias seguem ignorantes e mal formadas. As sociedades continuam sendo separadas: poucos com oportunidades e muitos relegados à própria sorte.
A organização do Estado brasileiro, sua apropriação pelas elites, sócias de seus recursos, eternizam as diferenças e sobrepõem outras dificuldades no que, normalmente, já é muito difícil: vencer numa sociedade competitiva e individualista. A cada geração, dependendo das circunstâncias, formamos ilhas de ódio. Todas as gerações formadas a partir da década de 70 tem motivos para não gostar dos políticos.
Nossos presidentes não deram atenção alguma para a reforma do Estado, para o aperfeiçoamento dos costumes políticos, para a seriedade dos negócios públicos e para a formação das novas gerações de brasileiros. São Paulo é a cidade exemplo de obras para o automóvel, que despreza o transporte coletivo num local de milhões de pessoas, apertadas e acotoveladas em ônibus decadentes e metrôs insuficientes e moram à beira de rios fedorentos, sem poder educar adequadamente seus filhos.
Os grandes meios de comunicação, especialmente televisivos, dependentes das publicidades oficiais, não ajudam a educar e são um fator a mais de emburrecimento da maioria, que se porta como aliada da mesmice e da ignorância estabelecida. A Justiça não existe para os pobres e o Estado é um meio para o enriquecimento de poucos.
No momento em que escrevo estas linhas, a grande imprensa brasileira se ocupa dos escândalos do Senado Federal, uma instituição com menos de cem membros e mais de dez mil servidores. Os legislativos brasileiros, via de regra, são depósitos de maus servidores, parentes e apadrinhados dos políticos que por ali passam.
Apesar da permanente ignorância promovida pelo Estado, as novas formas de comunicação começam a fornecer outros meios de auto-aprendizagem e as populações estão aprendendo a ser conscientes. Conscientes e revoltadas. A revolta latente, acumulada em anos de desmando e negligência, faz nascer o ódio e a descrença nas instituições. Isso poderá fazer com que as populações pensem que não vale a pena ter parlamentos e começarão a sentir saudade das ditaduras. Terreno fértil para o aparecimento de um novo messias.
*Laerte Teixeira da Costa - UGT