terça-feira, 2 de agosto de 2011

Castores

Tradições, fé e interação social na Festa do Senhor Bom Jesus dos Castores, em Onda Verde/SP, no próximo dia 06 de agosto.

No próximo dia seis de agosto a comunidade católica celebra em suas Igrejas o dia do Senhor Bom Jesus, festa esta espalhada em diversas cidades de nossa região como Potirendaba, Monte Aprazível, Cosmorama, Catanduva e Cajobi. Mas neste momento falarei um pouco de uma em especial que fora responsável pelo surgimento de uma pequena cidade aqui perto de Rio Preto, mas grande em seu significado: a Festa do Senhor Bom Jesus dos Castores, de Onda Verde.

A partir das primeiras doações de terras para o surgimento do Santuário e do distrito pelo Coronel Castor (o qual homenageia as terras ali doadas) ainda entre 1909 e 1910 dão início aos primeiros habitantes e que ganham de ingleses a imagem do Senhor Bom Jesus. Anos depois, em 1920, outro Coronel, João Ismael doa mais terras para a construção de um povoado ao lado, influenciado pelo distrito e as novas terras ganham o nome de Onda Verde, porque o terreno era ondulado e a paisagem verde dos algodoeiros propiciaram esta visibilidade e o batismo do novo local. Assim, ao falarmos da Festa do Senhor Bom Jesus dos Castores também não podemos esquecer de modo algum de atribuir o desenvolvimento local da cidade que é conhecida por ser a primeira da região com desenvolvimento digital na Educação Infantil e Fundamental, além de suas Usinas e a Constroeste que favorecem a geração de emprego e renda para todos dali e cidades adjacentes.

Há exatos 102 anos a festa é tradicionalmente celebrada e envolve muitas pessoas da nossa região noroeste, além de pessoas que vêm da capital e de outros Estados para pedir ou agradecer por uma graça e de forma também tradicional e característica desta romaria. As atividades iniciam-se cerca de treze dias antes com a Cavalgada, Novenas, Batismos e Bênçãos dos Carros. Mas neste instante falaremos da tradicional caminhada feita pelos romeiros a partir do dia cinco de agosto, no cair da tarde.

As pessoas saem de diversos locais a seus critérios e a pé, seguem pela rodovia Transbrasiliana BR-153 em sentido à cidade de Onda Verde. O distrito dos Castores fica em uma das duas entradas para cidade, cerca de seis quilômetros antes de entrar na cidade, bem às margens da rodovia. É interessante a forma como as pessoas vão até o seu destino bem como a diversidade de faixa etária e nível social. Todos naquele momento tornam-se iguais por sua fé e resistência em caminhar longos quilômetros pela rodovia. Saindo do Posto da Polícia Rodoviária Federal ainda em São José do Rio Preto temos cerca de vinte quilômetros até o Santuário, que são marcados por transformações na noite do dia cinco para seis de agosto. A própria Polícia Rodoviária isola uma parte do acostamento da rodovia, através de cones e placares eletrônicos, para que os romeiros possam caminhar com segurança. Como já é de tradição os motoristas trafegam em baixa velocidade e ainda pode-se ver algumas buzinas para os romeiros em apoio à marcha tão significativa em tempos de tanta violência e caos.

No mesmo espaço temos pessoas que alcançaram graças junto ao Senhor Bom Jesus dos Castores e pagam suas promessas oferecendo alimentos, água, sucos, refrigerantes, pipocas, doces e guloseimas em geral para amparar aqueles que vão por sua primeira vez ou já frequentadores da romaria há anos. Tudo o que é doado ali para a população é de excelente qualidade e higiene, mesmo estando em um acostamento de rodovia tudo é muito bem esquematizado para não dar errado.

Também podemos ver durante o trajeto banheiros químicos que proporcionam conforto às necessidades fisiológicas dos romeiros, mas quem preferir caminhar um pouco mais, já em terras Onda-verdenses temos postos de gasolina que disponibilizam seus banheiros a todos. Ali o que vale é a boa paciência cristã em esperar a sua vez em utilizar e ao mesmo tempo um momento para fazer um breve repouso e fazer novas amizades.

A chegada no Santuário varia de pessoa para pessoa, mas sempre representa uma conquista espiritual ao romeiro e um alívio físico ao corpo que por algumas horas trabalhou em ritmo acelerado ou diferenciado de sua rotina. A partir da meia-noite temos a primeira missa que por sinal é a mais esperada por todos, carinhosamente chamada de Missa dos Jovens, celebrada pelo Bispo da Diocese de S.J. Rio Preto, D. Paulo. Dura cerca de duas horas e mesmo com as pessoas visivelmente cansadas não existe desânimo. Todos participam com muita fé e louvor e ali depositam seus inúmeros sonhos e desejos conquistados ou a ainda serem. Alguns chegam ao Santuário, rezam seus terços e voltam para os seus lares de diversas formas: a pé mesmo, com familiares buscando de automóveis ou ainda pegam caronas.

No dia seis podemos ainda acompanhar a Festa de modo bem dinâmico, com missas a cada hora e meia aproximadamente e algumas apresentações de Folia de Reis, bem como o tradicional Barracão do Santuário que oferece alimentos e bingos a quem deseje ou as barracas comerciais que têm alimentos diversos, lembranças religiosas ou não, alguns brinquedos para as crianças. Diversão e religiosidade não faltam naquele espaço. Muitas pessoas que não fizeram a caminhada noturna também comparecem durante o dia em variados horários. Na cidade de Onda Verde é feriado municipal, logo seus habitantes vêm em grande quantidade para aproveitar o momento, não importando se são ou não católicos; é interessante esta observação pois o espaço não é marcado apenas para quem seja da religião católica, mas sim para todos que desejem compartilhar um momento agradável e com muita segurança, pois por ser uma festa religiosa, não vemos tumultos, brigas, assaltos ou qualquer outro tipo de violência.

No cair da tarde a Procissão leva milhares de pessoas a fazer um percurso de cerca de 8 quilômetros e assim fazer o último agradecimento ao Senhor Bom Jesus. As autoridades religiosas saem em caminhão de som com abertura para que fiquem ao alto e ali possam cantar e rezar. Os fiéis logo atrás e abaixo carregam a enorme e pesada imagem. Por último vêm os romeiros munidos de bandeirolas de papel com o Hino ao Senhor Bom Jesus dos Castores e uma canção dedicada aos romeiros, bem como velas, terços, flores, tudo embelezando ainda mais o espaço que permanece deste modo por mais ou menos uma hora e meia para finalmente chegar à última missa também celebrada pelo Bispo Dom Paulo e com a participação de todos os párocos ali envolvidos no processo ritual celebrativo. Uma missa mais longa, um pouco mais de uma hora e meia que as convencionais, também com encerramento das atividades feito por uma grande queima de fogos.

Por fim posso afirmar que a Festa tem características tão peculiares que não precisa ser necessariamente católico para apreciar tantas tradições nela inseridas e, para quem, no caso, é e ainda não conhece a Festa por falta de oportunidades, não pode deixar de conhecê-la, sobretudo este ano o dia seis de agosto será num sábado, facilitando o acesso dos trabalhadores de segunda à sexta.

Estou no meu terceiro ano observando detalhes da festa para o meu projeto de Mestrado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e nos dois anos anteriores pude obter muitos relatos e registros que estão despertando ainda mais o meu lado investigativo e contribuindo para novos olhares acerca de alguma coisa que tenha passado despercebida, pois a festa de um modo geral é muito envolvente. Não poderia aqui deixar de agradecer ao Padre Alexandre, da Paróquia São João Batista de Onde Verde e também responsável pelo Santuário do Senhor Bom Jesus dos Castores, pois ele, assim como eu, enquanto professor (ele de Filosofia e eu de Sociologia, pelo Estado) acredita que a educação pode abrir horizontes e quebrar preconceitos quanto aos olhares religiosos e ao mesmo tempo compreender tantos porquês do homem que a sociedade não busca resposta ou questiona-se.

Por isso se você é católico ou não venha participar deste evento, venha conhecer um pouco mais sobre o Senhor Bom Jesus dos Castores e a cidade de Onda Verde que tem uma população muito receptiva e atenciosa, voltada a tantos valores de respeito com o próximo desconhecidos em tantas cidades pelo Brasil.

Ana Paula de Andrade Vivanco

Professora de Sociologia pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo.

Graduada em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina.

Trabalhos de pesquisa em Antropologia Social para ingresso no curso de Pós-Graduação Stricto Sensu (Mestrado) na Universidade Estadual de Campinas, sob apoio e leituras da Professora Maria Paula Jacinto Cordeiro, Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará e docente da Universidade Regional do Cariri - Juazeiro do Norte/CE.